Palavras ditas ...

Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor... Acho que a poesia está contida nisso tudo."
Carlos Drumond de Andrade

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Soneto de aniversário



Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.




Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Vinicius de Moraes

Amor


o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.


hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

José Luís Peixoto

sábado, 19 de outubro de 2013

Poema de todas as mulheres

Vinícius de Moraes, nasceu no Rio de Janeiro. Faz hoje, 100 anos.


No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o [cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!



Vinicius de Moraes

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Lorsque Tu Me Liras



Lorsque tu me liras, je te regarderai dans le pare-brise, 
Tu viendras à moi, tout entière, comme la route, 
Lorsque tu me liras, la maison sera silencieuse, et mon silence à moi te remplira tout entière aussi. 
Avec toi, dans toi, je ne suis jamais silencieux, c'est une musique très douce que je t'apporte... 
Quant à toi, tu verses au plus profond de ma solitude, cette joie triste d'être, cet amour que, jour après jour, nous bâtissons, en dépit des autres, en dépit de cette prison où nous nous sommes mis, en dépit des larmes que nous pleurons chacun dans notre coin, mais présents l'un à l'autre... 

Je te voyais, ces jours ci, dans la lande, là-bas, où tu sais... 
Je t'y voyais bouger, à peine te pencher vers cette terre que nous aimons bien tous les deux, et tu te prosternais 
à demi, comme une madone, et je n'étais pas là... ni toi... 
Ce que je voyais c'était mon rêve... 

Ne pas te voir plus que je ne te vois... 
Je me demande la dette qu'on me fait ainsi payer. 
Pourquoi? L'amour est triste, bien sûr, mais c'est difficile, au bout du compte, difficile... 

Dans mes bras, quand tu t'en vas longtemps vers les étoiles et que tu me demandes de t'y laisser encore... encore... 
Je suis bien; c'est le printemps, tout recommence, tout fleurit, et tu fleuriras aussi de moi, je te le promets. 

La patience, c'est notre grande vertu, c'est notre drame aussi. 
Un jour nous ne serons plus patients. 
Alors, tout s'éclairera, et nous dormirons longtemps, et nous jouirons comme des enfants. 
Tu m'as refait enfant; j'ai devant moi des tas de projets de bonheur... 
Mais maintenant, tout est arrêté dans ma prison. 
J'attends que l'heure sonne... 
Je me perds dans toi, tout à fait. 

Je t'aime, Christie, je t'aime. 

Léo Ferré

domingo, 13 de outubro de 2013

O Tempo Passa? Não Passa


O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada, 
transcendem qualquer medida. 
Além do amor, não há nada, 
amar é o sumo da vida. 

São mitos de calendário 
tanto o ontem como o agora, 
e o teu aniversário 
é um nascer toda a hora. 

E nosso amor, que brotou 
do tempo, não tem idade, 
pois só quem ama 
escutou o apelo da eternidade. 

Carlos Drummond de Andrade

Imagem copiada daqui

domingo, 6 de outubro de 2013

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