Palavras ditas ...

Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor... Acho que a poesia está contida nisso tudo."
Carlos Drumond de Andrade

terça-feira, 29 de julho de 2014

Mangas verdes com sal

Mangas verdes com sal
sabor longínquo, sabor acre
da infância a canivete repartida
no largo semicírculo da amizade.
Sabor lento, alegria reconstituída
no instante desprevenido,
na maré-baixa,
no minuto da suprema humilhação.
Sabor insinuante que retorna devagar
ao palato amargo,
à boca ardida,
à crista do tempo,
ao meio da vida.

 Rui Knopfli

quinta-feira, 10 de julho de 2014

" ... A vida pulsando, indiferente ao bem e ao mal. O coração batendo, o sangue circulando, o corpo vivo. E no entanto a realidade vem sempre outra vez ter connosco."

 Teolinda Gersão
(PASSAGENS, Sextante Editora, 2014, p. 138)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Gift


You tell me that silence
is nearer to peace than poems
but if for my gift
I brought you silence
(for I know silence)
you would say
This is not silence
this is another poem
and you would hand it back to me.

Leonard Cohen


sábado, 5 de julho de 2014

Diz o Meu Nome

No dia do 59º aniversário de Mia Couto, deixo um poema do seu primeiro livro Raiz de Orvalho, publicado em Maputo pela Associação de Escritores Moçambicanos (AEMO). Em 1999, a Editorial Caminho (que publica as obras de Mia Couto em Portugal) relançou Raiz de Orvalho e outros poemas.



Diz o meu nome 
pronuncia-o 
como se as sílabas te queimassem 
                       os lábios 
sopra-o com a suavidade 
de uma confidência 
para que o escuro apeteça 
para que se desatem os teus cabelos 
para que aconteça 

Porque eu cresço para ti 
sou eu dentro de ti 
que bebe a última gota 
e te conduzo a um lugar 
sem tempo nem contorno 

Porque apenas para os teus olhos 
sou gesto e cor 
e dentro de ti 
me recolho ferido 
exausto dos combates 
em que a mim próprio me venci 

Porque a minha mão infatigável 
procura o interior e o avesso 
da aparência 
porque o tempo em que vivo 
morre de ser ontem 
e é urgente inventar 
outra maneira de navegar 
outro rumo outro pulsar 
para dar esperança aos portos 
que aguardam pensativos 

No húmido centro da noite 
diz o meu nome 
como se eu te fosse estranho 
como se fosse intruso 
para que eu mesmo me desconheça 
e me sobressalte 
quando suavemente 
pronunciares o meu nome 

Mia Couto

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen

A trasladação do corpo de Sophia para o Panteão Nacional realiza-se hoje, no 10º aniversário da sua morte.


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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