para a Xia
uma carta é suficiente
para me transcender e enfrentar-te
quando falas
e assim que o vento sopra para o passado
a noite utiliza
para escrever um verso secreto
que me relembra que
cada palavra é a última palavra.
e o gelo no teu corpo
se dissolve num fogo mitológico;
nos olhos de quem executa
a fúria torna-se pedra.
dois pares de caminhos-de-ferro
inesperadamente sobrepostos, os
insectos embatem nas lâmpadas
de luz, um sinal eterno
que persegue a tua sombra.
Liu Xiaobo
tradução de Pedro Calouste