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Nesse dia de Natal, ......................
A mãe chegou à cozinha. Os azulejos brancos reflectiam a luz da lâmpada fluorescente. A mãe tirou uma caneca do armário. Era uma caneca de loiça, gasta pelas lavagens da máquina, as cores esbatidas. Do frigorífico tirou um pacote de leite. Encheu a caneca e colocou-a no micro-ondas. Ficou a olhar para ela enquanto rodava, iluminada, como uma caneca que fosse bailarina num palco de vidro. Plim: o toque demasiado alto, demasiado estridente do micro-ondas. A caneca estava a escaldar, mas o leite estava apenas morno. Mexeu-o com uma colher. Então, sentou-se numa cadeira, ao lado da pequena mesa da cozinha onde pousou o cotovelo. E assim ficou, em pijama, de meias, a beber leite morno e a olhar para o ar.
José Luís Peixoto
In Abraço, Quetzal Editores, 2011
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