(a pretexto do silêncio)
apetece-me gritar por socorro
(bastará murmurá-lo?)
quero não mutilar mais o que é meu
e isto é tão lato, tão lato como
a riqueza que desbarato.
não dizer o que escrevo,
não escrever o errado.
nem ao poeta é permitido o pecado.
que dizer de mim, casto,
escrevinhador do bonito e militante do errado?
silêncio e caldos de galinha,
essa rigorosa dieta à obesa parte do eu
esse maltratar do que é meu.
e meu também é este poema,
esta camisa limpa que vesti.
este falar alto
como se me ouvisse além do escrito:
nem eu! confesso-o
nem esta puta velha que faz merda atrás de merda,
este coirão das letras e dos ardores,
afinal meio escritor
afinal só mais um murmúrio:
socorro! - mas é em vão.
nem eu me ouço
enredado na construção
de só e apenas mais uma justificação
para a carnificina, a completa desilusão
que é abrir a cortina
e olhar
tanto que tive e tenho, se foram
e se vão.
afinal não gritei: sorri :-)
ouviu-me quem me leu
e se o perceber-me é mais complexo
que se lixe o nexo: escrevi!
e acudi ao intraduzí
Carlos Gil
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