Não, já não amo mais os passarinhos
A quem, triste, contei tanto segredo
Nem amo as flores despertadas cedo
Pelo vento orvalhado dos caminhos.
Não amo mais as sombras do arvoredo
Em seu suave entardecer de ninhos
Nem amo receber outros carinhos
E até de amar a vida tenho medo.
Tenho medo de amar o que de cada
Coisa que der resulte empobrecida
A paixão do que se der à coisa amada
E que não sofra por desmerecida
Aquela que me deu tudo na vida
E que de mim só quer amor - mais nada.
Vinicius de Moraes
Palavras ditas ...
Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor... Acho que a poesia está contida nisso tudo."
Carlos Drumond de Andrade
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor... Acho que a poesia está contida nisso tudo."
Carlos Drumond de Andrade
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
O Sol nas Noites e o Luar nos Dias
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Falar
Não tenho que falar com mil cuidados
Pensando se a palavra é ofensiva
Só porque tu, de forma compulsiva,
Em todas as palavras lês recados.
Nem devo questionar-me se o que entendes,
Distante embora da realidade,
Terá mais ligação com a verdade
Do que essas ilações a que te prendes.
Só falo com franqueza, abertamente,
Sem pôr meias palavras de permeio,
Mas sem dos teus melindres ter receio;
Bem sei que gostas mais de quem te mente,
Promete isto e aquilo e mais o mundo,
Embora tudo esqueça, num segundo.
Vítor Cintra in Fragmentos
Pensando se a palavra é ofensiva
Só porque tu, de forma compulsiva,
Em todas as palavras lês recados.
Nem devo questionar-me se o que entendes,
Distante embora da realidade,
Terá mais ligação com a verdade
Do que essas ilações a que te prendes.
Só falo com franqueza, abertamente,
Sem pôr meias palavras de permeio,
Mas sem dos teus melindres ter receio;
Bem sei que gostas mais de quem te mente,
Promete isto e aquilo e mais o mundo,
Embora tudo esqueça, num segundo.
Vítor Cintra in Fragmentos
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Poema à Mulher de Signo Sagitário
As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide...
- Também, quem gosta de censura!
Vinicius de Morais
Sagitário - de 22 de Novembro a 21 de Dezembro
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Amarelas são as tardes
são amarelas as tardes quentes de ti
teu corpo em espera ligeira nem pluma nem ave cântico de adormecimento oblíqua
nuvem num céu de breve quentura e o sal também vem até onde a lava te celebrar
e o amarelo da tarde restar tom de manteiga com açúcar derretido na pele no chão
da minha boca espasmo delicioso amor intranquilo beijo sem lábios na ternura de
palavras faladas amarelas são as tardes em que o meu corpo maduro te descobre
transparente maracujá quente
quente de mim
Ondjaki
teu corpo em espera ligeira nem pluma nem ave cântico de adormecimento oblíqua
nuvem num céu de breve quentura e o sal também vem até onde a lava te celebrar
e o amarelo da tarde restar tom de manteiga com açúcar derretido na pele no chão
da minha boca espasmo delicioso amor intranquilo beijo sem lábios na ternura de
palavras faladas amarelas são as tardes em que o meu corpo maduro te descobre
transparente maracujá quente
quente de mim
Ondjaki
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Apelo
Porque não vens agora, que te quero,
E adias esta urgência?
Prometes-me o futuro, e eu desespero.
O futuro é o disfarce da impotência...
Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento...
O desejo é o limite dos mortais.
Miguel Torga
E adias esta urgência?
Prometes-me o futuro, e eu desespero.
O futuro é o disfarce da impotência...
Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento...
O desejo é o limite dos mortais.
Miguel Torga
domingo, 13 de novembro de 2011
Os Amantes de Novembro
Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor
Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um
De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.
Alexandre O'Neill
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor
Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um
De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.
Alexandre O'Neill
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O Espírito
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
A vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
Natália Correia
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
A vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
Natália Correia
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Conta Comigo Sempre
Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio, outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.
Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.
Joaquim Pessoa
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.
Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.
Joaquim Pessoa
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