Deste canto de treva, esperas, surdo,
enquanto o céu corrói teu corpo escasso.
E sentes de ti mesmo o ofego gasto
pelo escoar do dia, o jogo amargo
de voltar das manhãs cheio de escuro.
Deste lado solar, desprezas, mudo,
o que sabes virá porque marcado
na morte que vais sendo, o sonho alçado
ao espaço que passa, este amor breve,
pois é feito de tempo e o tempo cede.
Eis tuas mãos. As suas linhas, cego,
o solitário sol, o rio vazio,
o saibro sob os pés, o choro inútil
e tudo o que feriste nos descrevem,
num rogo de beleza, sujo e puro.
Do centro crepuscular, dali tens tudo.
Alberto da Costa e Silva
Pelo conjunto de sua obra, foi atribuído a Alberto da Costa e Silva o Prémio Camões 2014.
O anúncio foi feito oficialmente a 30 de Maio deste ano e a cerimónia de entrega do prémio acontecerá esta noite, no Rio de Janeiro, no Brasil.
O anúncio foi feito oficialmente a 30 de Maio deste ano e a cerimónia de entrega do prémio acontecerá esta noite, no Rio de Janeiro, no Brasil.
O poeta venceu também em 1998 o Prémio Jabuti, principal galardão da literatura brasileira.
Alberto da Costa e Silva, enquanto ensaísta e historiador, é também reconhecido como grande conhecedor da cultura africana, tendo escrito diversos livros sobre o continente.
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