Doces e claras águas do Mondego,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida e pérfida esperança
Longo tempo após si me trouxe cego,
De vós me aparto, sim; porém, não nego
Que inda a longa memória, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança;
Mas quanto mais me alongo, mais me achego.
Bem poderá a Fortuna este instrumento
Da alma levar por terra nova e estranha.
Oferecido ao mar remoto, ao vento.
Mas alma, que de cá vos acompanha,
Nas asas do ligeiro pensamento,
Para vós, águas, voa, e em vós se banha.
Luís Vaz de Camões
Nenhum comentário:
Postar um comentário