há no ano um dia
em que por pudor uso silêncio
todos os outros minto:
minto à musa, minto à poesia, à rima
e até a mim um trauteio invento:
digo-me vate, faço puzias,
em poemas sou profícuo e vasto.
mas escondo-me por vergonha no dia
que da poesia fizeram monumento.
nesse dia, faça chuva ou sopre vento
riam-se as musas e assoprem-me a rima,
nesse dia, poesia, eu não faço.
aquele que dizem já ser amanhã,
dia em que se rasga a má rima e pisa-se o descaramento
de sem vergonha dizer, com lamento,
deste dia não ser meu e, até
se rimar, até disso,
hoje eu, por pudor,
rasgo este papel e guardarei silêncio.
Carlos Gil
(20.Março.2007)
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