Palavras ditas ...

Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor... Acho que a poesia está contida nisso tudo."
Carlos Drumond de Andrade

sábado, 9 de abril de 2011

é mentira, Princesa

Em homenagem a Carlos Gil, no dia do seu aniversário.
Parabéns meu querido amigo e obrigada pela poesia das tuas palavras


é mentira, Princesa
li-o e não me recordo onde foi.
recordo-me sim dele, o Beijo Primeiro
que não foram lábios que o deram:
as letras: essas beijaram primeiro.

que li eu afinal? que o primeiro beijo é
dado pelos olhos e os lábios, ávidos,
salivam-no depois.

mentira.

porque o nosso primeiro beijo, Princesa
foi feitiço escrito em letras
por dedos que acariciam. lêmo-lo
antes de conhecermos a mágica do olhar.

é, Princesa.
os dedos são ternos. são-no
antes de deslizarem nas rugas
que levam aos lábios e os fazem sedentos.

além é mentira, Princesa.
o nosso Primeiro Beijo dei-to olhando o mar
de betão onde as capulanas rareavam.
e tu entendeste qu'o travo acerbo
atrás do vocábulo era a solidão
das acácias no Outono velho. leste

tu leste, e leste os meus dedos lábios
beijando as colinas, a imensidade da nossa Cidade.
que melhor Primeiro Beijo te poderia dar
que naquelas avenidas que nos viram aprender a amar?

não estou a Leste dele. não: escrevi-to
antes de conhecer-te o olhar
e desejar saber se nos lábios duma Princesa
encontraria o sal do nosso mar.

murmurei-o sem conhecer-te
pois conhecemo-nos de sempre.
assim sabia, Princesa,
que um dia nele, poema beijo, nos iríamos enlaçar.
ela, "Princesa das Duas Cidades"
ficaria triste e infeliz s'as suas letras ficassem
solitárias, ausentes do beijo
daqueles que lêem e entendem

as areias, colinas e ruas que lemos de crianças.
as palavras que delas loam eram incompletas
se numa das suas esquinas não nos cruzássemos
e, em letra corrida não disséssemos «Sim! o
Primeiro Beijo foi suspirado naquele areal»

por isso é mentira, Princesa.
a nossa primeira carícia foi trocada lá,
ausente doutro olhar íntimo qu'aquele que advém
da nosso História individual gritar
que respirávamos o mesmo ar.
e os olhos, esses palradores infatigáveis,
liam o mesmo arfar, suspiro da Cidade.
constante. mesmo se as mãos que ora escrevem,
então, enlaçassem sonhos diferentes.
repara Princesa:

os nossos olhos viam longe na cidade
e por isso nós beijávamo-nos diariamente
ao amar os pequenos nadas,
benesses daqueloutra Princesa que
amamos e beijamos.
nela beijávamo-nos nós.
sabe-lo:
tu e eu sabemos do Amar
antes de sabermos ler e contar.
e depois crescemos. na distância lemos olhares.
apaixonamo-nos dizes tu. nas letras
que falaram de tudo, amor e tristeza,
cidade e olhares.
é mentira, Princesa.
é mentira se não olharmos nas rugas os sinais.
é mentira se negarmos que lá nos cruzámos
e enlaçamos tudo o que há de importante a laçar
a memória. a Cidade das Duas Princesas.
as dores e as alegrias. o crescer sem perder
este coração apertado qual dique
que jorra nas letras que soletramos…
há uma verdade, Princesa:
os Príncipes são os que sabem Ler,
são os aúgures de momentos
em que se suspira por reviver e Viver.
com ternura

Carlos Gil

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