O meu Paris é Johannesburg,
um Paris certamente menos luz,
mais barato e provinciano.
Mas Johannesburg lembra-me o Paris
que não conheço: o mesmo movimento
endemoninhado, as luvas brancas
do polícia sinaleiro, o brilho das montras,
a cor da moda, os mesmos amorosos
que se beijam sem pudor nos bancos
das áleas ensolaradas, o Sena
que não há e a Torre Eiffel
que também não
À noite janto no Montparnasse
de Hilbrow, que é o Quartier Latin
do sítio e olho essas mulheres
excêntricas e belíssimas
de pullover e slacks helanca.
Olho também esses efebos de pálpebras
cendradas, com os ademanes e o ar triste
de quem vive na perplexidade dos sexos.
Depois do turkish coffee meto-me
até ao Cul de Sac e fico-me
a ouvir o sax maravilhado
de Kippie Moeketsi. O jazz, sim,
é genuíno e tem um bite
todo local.
Aqui ninguém sabe quem sou,
aqui a minha importância é zero.
Em Paris também.
Rui Knopfli
imagem copiada daqui